Nota: Se me permitem corrigir, o Dr. Fragata está enganado nos números de portugueses em espera na Corunha: São 8 e acabaram de ser transplantadas duas jovens, e bem felizmente.
Um transplante bi-pulmonar e um transplante uni-pulmonar.Do que li "O acordo para uma lista de colheitas de orgãos ibérica" é uma excelente solução! Esperemos que para breve uma vez que já se fala disto há tanto tempo!
Sandra Campos
A falta de perspectiva daquilo que é uma unidade de transplante e uma organização muito deficiente foram as causa da morte do programa de transplantação pulmonar em Portugal. Com uma média anual de dois transplantes desde que foi lançado, em 2001 - quando o país precisa de 15 a 20 transplantes pulmonares anuais -, e com uma taxa de sucesso a longo prazo considerda má fez os doentes optar por tentar a sorte, e consegui-la, em Espanha. Para onde até já seguem os pulmões que a única unidade portuguesa que os poderia aceitar, no Hospital de Santa Marta (HSM), em Lisboa, declina.
O panorama é por todos assumido como negro, mas as garantias são de melhoria. Estamos a tentar seriamente relançar o programa e dentro de alguns meses, não terão de ir a Espanha. É José Fragata, director do Serviço de Cirurgia Cardiotorácica do HSM, quem o garante, secundado pela recém-criada Autoridade para os Serviços de Sangue e de Transplantação (ASST). Quando cheguei, em Janeiro, herdei um programa com o mérito do pioneirismo, mas com falhas de organização diz o cirurgião.
A ovelha negra
Porque um transplante é muito mais do que a mera cirurgia. É a convergência de todas as especialidades médicas que giram à volta que José Fragata classifica de peri-operatório (antes e depois do transplante) e envolve, além da cirurgia, a pneumologia e a bacteriologia, para citar apenas algumas. António Sarmento, presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação, é mais directo. Sem pré-operatório, não há doentes em condições para tansplantar. Sem pós-operatório, há insucesso.
E se o pré nunca foi criado em Portugal, o pós simplesmente falha, até em acompanhamento na fisioterapia. Por falta de perspectiva do que é uma unidade de transplante o programa não foi capaz. E transformou-se na ovelha negra da transplantação em Portugal - que até consegue o terceiro lugar no ranking europeu do transplante hepático. Quem precisa de um pulmão já nem sequer se inscreve no HSM. Em Junho, segundo a ASST, a lista de espera era ali de três doentes, mais alguns em estudo. José Fragata, ele, junta os números e fala em seis a oito. No hospital da Corunha, estão dois portugueses em espera (*ver nota)
Maus resultados
O manejo médico em torno do transplante pulmonar tem que ser apurado foi o diagnóstico a que José Fragata logo chegou, tendo nas mãos os dados estatísticos 12 transplantes desde 2001 (contra 23 só este ano na Corunha), muito pouco e com uma taxa de sucesso imediata boa;, mas muito abaixo das tendências internacionais, que apontam para uma sobrevida de 50% aos três anos. O HSM tem resultados muito piores.
Para contrariar a realidade, o serviço redesenhou todo o programa e tem até especialistas em formação em Madrid, num centro que está a dar apoio logístico ao programa do HSM. Um empenho; que a coordenadora nacional de colheitas da ASST, Maria João Aguiar, acredita ser forte e permitirádesenvolver; a transplantação pulmonar em Portugal, que até esta altura do ano contabiliza duas intervenções, uma em Janeiro, outra em Maio. Começámos há pouco tempo nisto lembra o médico, recusando comparações com Espanha, que tem a melhor organização de transplantação do mundo.
Mas o cirurgião acredita num futuro risonho. Temos condições logísticas - em espaço e profissionais - para responder às necessidades de Portugal e a criação de um segundo centro não é de todo posta de parte.
Por enquanto e até lá - como contamos nas duas páginas que se seguem - muitos portugueses seguem para a Corunha, na Galiza, onde se instalam de armas e bagagens. E descansam numa taxa de sucesso que a equipa que os recebe calcula em 60% de sobrevida aos cinco anos e 50% aos dez anos.
Colheita em xeque
Por cá, a falta de resposta do HSM, como a classifica Maria João Aguiar, reflectiu-se até nas colheitas de pulmões. Deixaram de transplantar e, como tal, as próprias equipas de colheita deixaram de os contactar e o programa foi morrendo lamenta António Sarmento. Um dador compátivel deixou simplesmente de se rolhado como tal. Para que e que um responsável por uma colheita vai avisar uma unidade que não transplanta?
Na mesma tónica e do seu lado, José Fragata faz questão de desmentir a desculpa a falta de órgãos para a reduzida actividade de transplantação. É uma desculpa má diz, embora aceite que é sempre possível melhorar. Diferentemente, Fernando Martelo, um dos cirurgiões da equipa do HSM, garante que a situação só melhorou no ano passado. Até então, só recebiam pulmões numa base de oferta regional, do Hospital de S. José. Há cinco gabinetes de colheita, teria que ser maior! De novo, o dedo é apontado a um problema organizacional. Mas, desta vez, do sistema nacional.
Órgãos não usados cá são aproveitados além-fronteira
De Janeiro a Junho, Portugal enviou 12 pares de pulmões para Espanha, prova de que a colheita corre a bom ritmo no nosso país. Temos este ano mais 50% de colheita do que no mesmo período do ano passado diz Maria João Aguiar, da ASST. Um número que, a frio, parece poder cobrir as necessidades do país (15 a 20 transplantes anuais), mas que não pode se lido assim. Além do facto de o aumento da transplantação fazer crescer as indicações para ela, há que contar com a compatibilidade. Em cada dez ofertas, uma é aproveitável, explica José Fragata. Junto com o tipo de sangue, há que contar com o tamanho do pulmão, que difere muito de pessoa para pessoa. Num país com pouca lista de espera, encontrar o matching correcto é mais raro. Daí oferecer-se os órgãos excedentários a Espanha, que tem uma lista de receptores muito maior que Portugal. Em 2006, havia 323 espanhóis em espera, contra a meia dúzia de inscritos em Portugal. Quanto mais não seja, a oferta à organização nacional de transplante espanhola insere-se no cumprimento de guidelines europeias, válidas para todos os órgãos. Ainda no mês passado tínhamos um fígado bom de um grupo sanguíneo raro e não tínhamos receptor para ele. Foi para Espanha conta Maria João Aguiar. E, a muito curto prazo a ideia é fazer acordos para uma espécie de colheita e lista de espera ibéricas.
O panorama é por todos assumido como negro, mas as garantias são de melhoria. Estamos a tentar seriamente relançar o programa e dentro de alguns meses, não terão de ir a Espanha. É José Fragata, director do Serviço de Cirurgia Cardiotorácica do HSM, quem o garante, secundado pela recém-criada Autoridade para os Serviços de Sangue e de Transplantação (ASST). Quando cheguei, em Janeiro, herdei um programa com o mérito do pioneirismo, mas com falhas de organização diz o cirurgião.
A ovelha negra
Porque um transplante é muito mais do que a mera cirurgia. É a convergência de todas as especialidades médicas que giram à volta que José Fragata classifica de peri-operatório (antes e depois do transplante) e envolve, além da cirurgia, a pneumologia e a bacteriologia, para citar apenas algumas. António Sarmento, presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação, é mais directo. Sem pré-operatório, não há doentes em condições para tansplantar. Sem pós-operatório, há insucesso.
E se o pré nunca foi criado em Portugal, o pós simplesmente falha, até em acompanhamento na fisioterapia. Por falta de perspectiva do que é uma unidade de transplante o programa não foi capaz. E transformou-se na ovelha negra da transplantação em Portugal - que até consegue o terceiro lugar no ranking europeu do transplante hepático. Quem precisa de um pulmão já nem sequer se inscreve no HSM. Em Junho, segundo a ASST, a lista de espera era ali de três doentes, mais alguns em estudo. José Fragata, ele, junta os números e fala em seis a oito. No hospital da Corunha, estão dois portugueses em espera (*ver nota)
Maus resultados
O manejo médico em torno do transplante pulmonar tem que ser apurado foi o diagnóstico a que José Fragata logo chegou, tendo nas mãos os dados estatísticos 12 transplantes desde 2001 (contra 23 só este ano na Corunha), muito pouco e com uma taxa de sucesso imediata boa;, mas muito abaixo das tendências internacionais, que apontam para uma sobrevida de 50% aos três anos. O HSM tem resultados muito piores.
Para contrariar a realidade, o serviço redesenhou todo o programa e tem até especialistas em formação em Madrid, num centro que está a dar apoio logístico ao programa do HSM. Um empenho; que a coordenadora nacional de colheitas da ASST, Maria João Aguiar, acredita ser forte e permitirádesenvolver; a transplantação pulmonar em Portugal, que até esta altura do ano contabiliza duas intervenções, uma em Janeiro, outra em Maio. Começámos há pouco tempo nisto lembra o médico, recusando comparações com Espanha, que tem a melhor organização de transplantação do mundo.
Mas o cirurgião acredita num futuro risonho. Temos condições logísticas - em espaço e profissionais - para responder às necessidades de Portugal e a criação de um segundo centro não é de todo posta de parte.
Por enquanto e até lá - como contamos nas duas páginas que se seguem - muitos portugueses seguem para a Corunha, na Galiza, onde se instalam de armas e bagagens. E descansam numa taxa de sucesso que a equipa que os recebe calcula em 60% de sobrevida aos cinco anos e 50% aos dez anos.
Colheita em xeque
Por cá, a falta de resposta do HSM, como a classifica Maria João Aguiar, reflectiu-se até nas colheitas de pulmões. Deixaram de transplantar e, como tal, as próprias equipas de colheita deixaram de os contactar e o programa foi morrendo lamenta António Sarmento. Um dador compátivel deixou simplesmente de se rolhado como tal. Para que e que um responsável por uma colheita vai avisar uma unidade que não transplanta?
Na mesma tónica e do seu lado, José Fragata faz questão de desmentir a desculpa a falta de órgãos para a reduzida actividade de transplantação. É uma desculpa má diz, embora aceite que é sempre possível melhorar. Diferentemente, Fernando Martelo, um dos cirurgiões da equipa do HSM, garante que a situação só melhorou no ano passado. Até então, só recebiam pulmões numa base de oferta regional, do Hospital de S. José. Há cinco gabinetes de colheita, teria que ser maior! De novo, o dedo é apontado a um problema organizacional. Mas, desta vez, do sistema nacional.
Órgãos não usados cá são aproveitados além-fronteira
De Janeiro a Junho, Portugal enviou 12 pares de pulmões para Espanha, prova de que a colheita corre a bom ritmo no nosso país. Temos este ano mais 50% de colheita do que no mesmo período do ano passado diz Maria João Aguiar, da ASST. Um número que, a frio, parece poder cobrir as necessidades do país (15 a 20 transplantes anuais), mas que não pode se lido assim. Além do facto de o aumento da transplantação fazer crescer as indicações para ela, há que contar com a compatibilidade. Em cada dez ofertas, uma é aproveitável, explica José Fragata. Junto com o tipo de sangue, há que contar com o tamanho do pulmão, que difere muito de pessoa para pessoa. Num país com pouca lista de espera, encontrar o matching correcto é mais raro. Daí oferecer-se os órgãos excedentários a Espanha, que tem uma lista de receptores muito maior que Portugal. Em 2006, havia 323 espanhóis em espera, contra a meia dúzia de inscritos em Portugal. Quanto mais não seja, a oferta à organização nacional de transplante espanhola insere-se no cumprimento de guidelines europeias, válidas para todos os órgãos. Ainda no mês passado tínhamos um fígado bom de um grupo sanguíneo raro e não tínhamos receptor para ele. Foi para Espanha conta Maria João Aguiar. E, a muito curto prazo a ideia é fazer acordos para uma espécie de colheita e lista de espera ibéricas.
Jornalista: Ivete Carneiro
Sem comentários:
Enviar um comentário