terça-feira, 7 de setembro de 2010

Testemunho de Luta pela Vida - "C."

Foto: Hospital Gracia Orta Almada

Vou tratar esta pessoa tao corajosa por "C." até ter a certeza que pode dar o seu nome neste testemunho. Todos os passo que deu até agora sao de uma enorme força, coragem e determinaçao  em lutar contra este sistema de saúde tao injusto, incorrecto, lento e desumano que temos em Portugal.
O Caso diz respeito ao Hospital Garcia da Orta em Almada.
A todos os interessados em ajudar a resolver esta situaçao (em especial a comunicaçao social) por favor contactar-me para sandraalvescampos@gmail.com

Obrigada,
Sandra Campos

Carta:

Exmos srs endereçados nesta carta

Sou cidadão Português residente em Almada e com DPOC em estado muito agravado. Fico cansado de apenas falar e vivo sózinho, sem ninguém que cuide de mim.

No dia 10 de Agosto fui forçado a arrastar-me até à urgência do HGO, onde fiz gasimetrias (gasometria também), colheita de sangue e raio X. Recebi O2 que pouco me fez, como é obvio, e ao catéter foi adicionada uma substancia creio que para a minha situação desesperada.

Por vergonha (devo confessá-lo), regressei ao meu local de residência acreditando que, como outras vezes, os meus pulmões pelo menos conseguiriam com os dias, algum causal mínimo de ventilação que me permitisse psicológicamente afastar o fantasme de poder morrer a qualquer momento só dando por mim se o meu corpo atraísse um mosqueiro excepcional ou o meu cão não parasse de ladrar.

Ilusão. Cada dia senti-me pior e foi assim que passados oito dias aos quais sobrevivi com aerosol quase ininterrupto, me desloquei à Pneumologia do HGO onde pedi para falar com o chefe daquele serviço.

Recebido pelo clínico comuniquei-lhe toda a minha situação e ele confirmou o episódio da urgência de dia 10 onde faltava uma gasimetria mas que posteriormente devido à Sra. Dr. ter anexado ao meu processo, o Gabineto do Utilizador (serviço espectacular) conseguiu localizar.

Referi ao clínico que, derivado o meu elevado grau de incapacidade (todo o esforço era afectado para o acto de meter e retirar algum ar dos pulmões) já considerava entrar em lista para transplante pulmonar. O Clínico disse-me que teria de ser internado para fazer uma bateria de exames e só depois da respeciva análise veria se nada impedia que seguisse o meu processo para STa Marta.

Insisti que estava a agonizar e nem sequer sabia se no dia seguinte seria capaz de sair da cama, quanto mais esperar por vaga para um internamento de dois dias, assim foi falado. Referi que estava disposto a ficar em qualquer lado, até numa maca, num canto ou corredor.

Mostrou-se inflexível referindo que o HGO tem normas e que teria de aguardar vagar uma cama, o que não tardaria mais de uma semana. (podem rir, eu consegui um pouco).

Assim, calendarizado o meu problema como se por determinação do HGO eu estivesse holísticamente impedido de MORRER até ser internado, esperei.
Consegui sobreviver esses sete dias e até mais alguns, aguardando o tal contacto que o clínico apontou durante a nossa "entrevista".

Os Portugueses têm esta capacidade de ser ESTÚPIDOS contra toda a lógica e eu estava a ser a personificação disso. (Podem rir de novo).

Na véspera de perfazer quinze dias (15 !! dias) desloquei-me ao HGO para RECLAMAR desta situação por sentir que não se PODE MANDAR ALGUÉM PARA MORRER EM CASA (ou no caminho para) E FICAR IMPUNE, quer profissionalmente quer judicialmente.

Com grande capacidade e muita insistência, a assistente secretariado demoveu-me de reclamar desta situação (eu arrastava-me) garantindo-me que no dia seguinte o Dr ou alguém da Pneumologia me contactaria.

Nada (Podem rir)

Assim, no dia 27 (vinte e sete!!) regressei ao HGO para pelo menos deixar registado que estive lá a mendigar pela minha vida ao responsável da Pneumologia daquele hospital. E assim fiz, terminando pelas 14:00, e que ficou com o nº 9 (nove).

Era minha intenção ainda nesse dia mandar este relato para os endereçados acima referidos mas tal não consegui por motivos obvios de incapacidade. A cada dia ANDO A LUTAR PELA VIDA, a tentar SOBREVIVER.

Hoje finalmente, deixo aqui este testemunho e uma advogada que fui "arrancar" ao Tribunal de Almada em desespero, está a estudar se haverá aqui matéria para, mesmo eu morrendo, atribuir responsabilidades.

Sinto-me por isso de certa forma aliviado.

Amanhã tentarei levantar-me. Vou ver se chego à loja dos telemóveis, carregá-los e contactar os programas de televisão de Espanha e Portugal, dando preferência aos primeiros por óbvias razões.

Esta carta seguiu igualmente para outros destinatários mas não visíveis por questões de recato.

O clínico, de acordo com relatos de profissionais de Saúde, ao não ter-me internado, deveria ter-me dado alguma medicação para tomar nos dias que meiassem o internamento e principalmente uma "mochila" de oxigénio, assim me foi dito, por entre grande estranheza perante o meu relato.

Agora façam o que têm a fazer.

C.

3 comentários:

  1. Dizem que não há coincidências. O facto é que, escassas horas após a publicação no seu Blog da minha carta à comunidade médica e Governante, recebi um muito aguardado telefonema da Pneumologia do HGO (hospital Garcia de Horta, Almada) indicando vaga para internamento.
    É precisamente do quarto onde entrei há cerca de uma hora que aproveito para vos escrever.
    Obrigado pelo interesse no meu caso.
    Devo dizer que imerso em desespero, fui à net em busca de alguma milagrosa solução e dei de caras com este Blog, que tem sido para mim uma esperança, além claro de todo o aporte que a experiência clínica da sua autora lhe acrescenta, pelos conselhos e sugestões que nos vai dando.

    Assim, passado um mês sobre um episódio de Urgência (em que deveria ter sido avaliado o internamento) e três semanas após a entrevista com o cheef da Pneumo do HGO, estou finalmente internado no Ground Zero da minha vida.

    Dos exames que fizer e da avaliação clínica se dará veredicto sobre a minha entrada em lista de transplante.

    No entanto, hoje que é um dia dos mais felizes em termos de ventilação (93 por cento de oxigênio do ar), em que consigo manter uma conversa sem ter de entrecortar palavra por palavra para ecuperar fôlego, é também um dia de decisão, pois o meu estado anímico (devo estar com pouco mais de 40 kg de peso) é tal forma frágil que, sendo eu solteiro a viver sozinho e sem familiares disponíveis (ou outros) terei de pensar muito a sério em modelos de sobrevivência a mim mesmo, isto é, suprir as deficiências estruturais da minha vida de forma a poder recuperar alguma massa muscular e fortalecer-me, sem o que, acaba de dizer-me a médica, não poderei accionar convenientemente a função pulmunar.

    É pois um ciclo vicioso: não se oxigena em condições, perde-se massa, perda essa que causa deficiência de trabalho do pulmão que fica ainda mais débil e por aí...

    Deixo um agradecimento sentido ao Blog e à sua autora.
    "C".

    ResponderEliminar
  2. Esta história é incrível e mete-me nojo como é que ainda existem estes tipos de pessoas a trabalhar num Hospital.
    Vamos chegar ao ponto de as pessoas terem medo de ir aos Hospitais, porque os médicos não são competentes.
    Irei estar aqui a torcer para que este senhor seja o mais depressa possível enviado para transplante...!
    Toda a sorte do Mundo.
    A Sandra é um anjo.

    ResponderEliminar
  3. Ola

    Encontro-me exactamente internado em exames para saber se tenho condições para ser transplantado de pulmões. Tenho DPOC em avançado grau e só falar ou respirar me cansa muito.

    Apesar de estar hospitalizado, tem sido com uma colega já transplantada (Sandra Alves) que tenho recebedo grande valia informativa. E agora com o vosso site (http://www.transplantepulmonar.com/index.html), por isso o meu grande obrigado.

    A forma como colocam o enfoque na "reorganização" da nossa vida é muito importante e vital.

    "C"

    Hospital Garcia de Orta, Almada, Portugal

    ResponderEliminar

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