O secretário de Estado adjunto e da Saúde, Manuel Pizarro, disse quarta-feira não ter ainda informação oficial sobre eventuais problemas gerados pela troca de um medicamento de marca por um genérico em crianças que foram submetidas a transplantes hepáticos no Hospital Pediátrico de Coimbra, tal como foi noticiado nos últimos dias, avança o Público.
Manuel Pizarro falava durante a apresentação do relatório da actividade de colheita e transplantação em 2010, ano em que se registaram 323 colheitas de órgãos em Portugal, menos seis que no ano anterior. Ainda assim, Portugal mantém-se no topo dos países com maior taxa de dadores por milhão de habitantes, área em que apenas é suplantado por Espanha.
Sobre o caso de Coimbra, embora o ex-coordenador do Programa Pediátrico de Transplantação Hepática, Emanuel Furtado, tenha considerado que a substituição do medicamento de referência por um genérico é “perigosa” e de “alto risco” para a saúde das crianças, o secretário de Estado afirmou não ter “informação de que alguma modificação que tenha ocorrido tenha tido um impacto concreto na qualidade de vida dos doentes”.
No entanto, reconheceu que “há uma orientação geral que diz que no caso de medicações com uma janela terapêutica estreita [em que a margem entre a dose eficaz e a dose tóxica é pequena] não se devem proceder a alterações dos fármacos durante o processo de tratamento”.
Em relação à colheita e transplantação de órgãos a nível nacional, o governante assegurou que as medidas de contenção na área da saúde não irão afectar esta actividade.
Maria João Aguiar, coordenadora nacional para a colheita de órgãos, manifestou a mesma convicção, afirmando que Portugal é “um exemplo” para o resto da Europa, tendo uma taxa média de dadores por milhão de habitantes muito superior à média europeia (30,4 contra 18). “Somos o segundo país do mundo na actividade de colheita de órgãos, e o primeiro no transplante hepático”, realçou.
Fonte: http://www.rcmpharma.com/news/12210/15/Troca-de-farmacos-em-Coimbra-%C3%A2-sem-efeito%C3%A2-nas-criancas.html
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Troca por genérico põe em risco crianças com transplantes hepáticos
O ex-coordenador do Programa Pediátrico de Transplantação Hepática Emanuel Furtado considerou segunda-feira “perigosa” e “de alto risco” a substituição do imunossupressor de marca (usado desde sempre em Portugal) por um medicamento genérico, na farmácia do Centro Hospitalar de Coimbra (CHC). A decisão terá sido tomada sem o conhecimento dos clínicos que acompanham os doentes, primeiro, e contra o parecer daqueles, numa segunda fase, avança o jornal Público.
Em causa, de acordo com o cirurgião Emanuel Furtado, está, em última análise, a possibilidade de rejeição mais frequente e mais grave do órgão por parte dos doentes. “Estamos a falar de medicamentos em que a margem terapêutica – entre a dose eficaz e a dose tóxica – é muito estreita, o que faz com que o controlo do equilíbrio do doente seja muito complicado e exigente”, descreve. Para que aquele equilíbrio se desfaça, explica, é preciso muito pouco. “Basta que o modo de preparação ou os excipientes sejam diferentes”, exemplifica.
É aquela condicionante que explica que seja desaconselhável a simples troca de medicamentos semelhantes do mesmo laboratório, mas com diferentes formulações; e que torna “especialmente perigosa a sua substituição por um genérico que, para além do mais, nunca foi, sequer, testado em crianças”, avisa o médico. A situação é agravada, na sua perspectiva, pelo facto de os doentes que recebem o medicamento não estarem a ser sujeitos à monitorização apertada que a mudança exigiria.
Emanuel Furtado, responsável pelos mais de 200 transplantes pediátricos feitos em Portugal, abandonou os Hospitais da Universidade de Coimbra há cerca de mês e meio, em ruptura com a administração. Isto por, alegadamente, não estarem garantidas as condições necessárias à prossecução, com segurança e sucesso, do programa de transplantes pediátricos, no âmbito de um acordo entre os HUC e o Hospital Pediátrico (que pertence ao CHC). Desde então, apenas assegura as intervenções de emergência. Segunda-feira, em declarações ao jornal Público, o cirurgião – que ao pedir a exoneração do cargo deixou de coordenar o programa pediátrico de transplantação hepática – justificou a sua intervenção neste caso afirmando que, como médico, está ciente de que a sua “função é defender o melhor para os doentes e não equilibrar orçamentos”.
Sublinhou, no entanto, que “não é, sequer, evidente, que da troca pelo genérico resulte uma redução de custos, por terem de ser contabilizados os gastos com testes laboratoriais de controlo, a perda de produtividade dos pais devido às deslocações mais frequentes aos hospitais e, em última análise, o aumento da frequência e da gravidade da rejeição do órgão”.
Margarida Castelão, dirigente da Associação Nacional das Crianças e Jovens Transplantados ou com Doenças Hepáticas (Hepaturix®), não tem dúvidas de que esse foi o critério para a substituição do medicamento. “Perante mim e outra pessoa da direcção, o director clínico do CHC, Carlos Mendonça, assumiu que a troca resulta da necessidade de poupar 15 por cento, este ano, do montante gasto na aquisição de medicamentos”, relatou.
Através do gabinete de imprensa, os administradores do Centro Hospitalar de Coimbra escusaram-se a fazer qualquer comentário sobre o assunto, por considerarem que “o momento não é oportuno”. Também não revelaram quantas crianças receberam, já o genérico, e quantas poderão vir a recebê-lo nos próximos dias. Apesar de todas as crianças terem feito a intervenção cirúrgica em Coimbra, cada uma delas levanta os medicamentos nos hospitais da sua área de residência. De entre todos esses, assegura Margarida Castelão, só o CHC optou por passar a fornecer o genérico.
fonte: http://www.rcmpharma.com/news/12169/51/Troca-por-generico-poe-em-risco-criancas-com-transplantes-hepaticos.html
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