12/09/2011 - 12:46
Os transplantes poupam milhões ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) e garantem uma maior sobrevivência e qualidade de vida aos doentes. De acordo com um estudo português que vai ser publicado em breve na Clinical Transplantation, os transplantes de rins garantem uma poupança superior a 20 mil euros por doente ao fim do primeiro ano. Ou seja, cada doente gasta menos 76,5% do que gastaria a fazer diálise, avança o Diário de Notícias.
São dados como estes que têm levado os especialistas a criticar o corte aos incentivos nos transplantes, mas sobretudo na colheita, que garante que há mais órgãos para transplantação. Os dados foram divulgados ao DN por Salete Martins, nefrologista do Hospital de Santo António e autora do estudo. "No primeiro ano, em que se faz a cirurgia, com os custos de exames e internamentos, o doente transplantado custa 60 mil euros, mas ao segundo ano o transplante sai mais barato que diálise".
Cada doente em hemodiálise tratamento renal que é a única alternativa ao transplante num caso de insuficiência grave – custa "cerca de 2300 euros por mês, contando com uma média de três sessões semanais de tratamento. Já um doente transplantado tem custos de 550 euros por mês", o que permite reduzir de 28 mil euros para cerca de 6600.
Os ganhos sucessivos atingem " 172 mil euros ao fim de dez anos", refere a médica. Um exemplo: os 573 doentes transplantados do ano passado vão garantir uma poupança de quase cem milhões de euros ao fim de dez anos.
Alfredo Mota, director do serviço de urologia e transplantação renal dos Hospitais da Universidade de Coimbra, também fez contas semelhantes num estudo anterior.
"Depois do primeiro ano o transplante fica pago. Fiz um estudo com mil doentes e concluí que, em vez de custarem 30 milhões de euros, estes doentes tiveram um custo de apenas 11 milhões num ano. Este é o único transplante em que é possível fazer isto. Nas restantes áreas é uma questão de vida ou morte", diz ao DN.
Um doente transplantado tem custos com consultas, tratamentos imunossupressores para não rejeitar o órgão, entre outros gastos com peso mais baixo que a hemodiálise, que além do tratamento tem custos de transporte, internamentos, acessos vasculares. O médico diz ainda que estes doentes "têm mais qualidade de vida, maior sobrevivência e regressam ao emprego, não ficando horas presos a uma máquina". Há 1955 doentes à espera de rim e dez mil em tratamento listas. São 1955 os doentes que estão em lista de espera para transplante de rim, uma lista que nunca esteve tão curta. Nos últimos anos, têm sido transplantados mais doentes do que os que entram em lista, com o reforço da colheita.
Este ano, com os efeitos da crise e cortes nos incentivos, os responsáveis temem que haja redução. "Já houve um ligeiro decréscimo. Temo que as equipas que fazem colheita possam perder parte do estímulo que tinham para colher, principalmente em unidades sem transplantes", diz Fernando Macário.
Além do presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação, também o director do serviço dos Hospitais da Universidade de Coimbra, Alfredo Mota, defende que se mantenham os incentivos: "Faz sentido as equipas receberem a benesse. Pelo contrário, no caso dos transplantes, muitas vezes eram verbas usadas para tapar buracos noutras áreas".
Esta semana, o ministro da Saúde disse em entrevista que era preciso perceber se o País "pode sustentar o actual número de transplantes" e que não havia "necessidade de haver um incremento no número de transplantes", o que levantou uma onda de indignação por haver questões de vida ou morte e por se pouparem custos com estas cirurgias. No Parlamento, porém, garantiu que "não há qualquer intenção de diminuir o número de transplantes", apesar do corte a incentivos.
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