A paciente desinfecta-se, liga o cateter ao saco de drenagem, selecciona o tubo por onde irá passar o líquido e inicia a drenagem
Cerca de 14 mil pessoas sofrem de insuficiência renal crónica em Portugal, uma patologia que, pela sua elevada frequência, é já considerada uma epidemia, a par da diabetes e da hipertensão arterial. Apesar de só uma parte destes doentes necessitar efectivamente de técnicas que substituam as funções desempenhadas pelos rins, os custos envolvidos são bastante elevados. A diálise peritoneal, técnica realizada por apenas 5% dos doentes em Portugal, poderá levar o Estado a poupar milhões de euros.
"Existe insuficiência renal crónica quando existe uma perda definitiva de uma parte da função renal, que pode variar de ligeiro até um grau de tal modo acentuado que não permite ao doente sobreviver sem o apoio de técnicas de suporte, como a transplantação renal e a diálise", explica o nefrologista Mateus Martins Prata. O especialista acrescenta que a diálise e a consequente limpeza das substâncias tóxicas do sangue podem ser feitas através de filtros artificiais – a hemodiálise – ou pelo filtro natural do próprio doente – o peritoneu.
Apesar de as técnicas dialíticas serem eficazes, o recurso à diálise peritoneal assume-se mais vantajosa para o doente. "Considera-se que esta forma de tratamento confere, em relação à hemodiálise, melhor qualidade de vida, igual ou maior sobrevivência, melhor prognóstico na transplantação, menor recurso a exames complementares e medicamentos, com custos substancialmente inferiores", revela o Mateus Prata, fundador da Unidade de Diálise do Serviço de Nefrologia e Transplantação Renal do Centro Hospitalar Lisboa Norte.
Tendo em conta que um doente em hemodiálise custa entre 450 euros e 470 euros por semana ao Estado, significa que, por mês, o custo por doente cifra-se em 1900 euros. No global, este tratamento custa ao país 290 milhões de euros anuais. "Os custos com a diálise peritoneal são 30 por cento mais baratos, o que permite uma poupança na ordem dos 87 milhões de euros por ano", conclui Martins Prata.
"DOENTE SÓ VAI UMA VEZ POR MÊS AO HOSPITAL": Mateus Martins prata Nefrologista, 73 anos
Correio da Manhã – Onde é que os utentes podem recorrer para realizar a diálise peritoneal?
Mateus Prata – A diálise peritoneal não se encontra oficialmente disponível no privado, podendo neste momento ser apenas realizada em hospitais públicos.
– Como é que é iniciado o tratamento?
– O doente faz as primeiras mudanças de líquido no hospital, onde é acompanhado por uma equipa de especialistas, que explicam e esclarecem todo o procedimento. Só quando passa a ter domínio na técnica é que inicia o tratamento em casa.
– Como é feito o acompanhamento médico a estes doentes?
– O paciente só tem de ir uma vez por mês ao hospital. Já o doente que faz hemodiálise tem de se deslocar ao centro de tratamento três vezes por semana, para sessões de quatro horas.
"QUERIA MANTER ESTILO DE VIDA"
Um desmaio ao volante do carro, em plena A5, devido a uma hipoglicemia grave, por pouco não terminou em tragédia para Ema Batista, de 35 anos, diabética desde os cinco e hipertensa há cerca de 8 anos. Os exames que se seguiram concluíram que a função renal de Ema tinha piorado substancialmente, pelo que o passo seguinte foi a inscrição na lista para transplante.
"Sempre pensei que, enquanto a doença não atrapalhasse o meu estilo de vida, não ia fazer nada", conta a especialista em dispositivos médicos para cirurgias à coluna. No entanto, em Março de 2011, o cansaço extremo levou Ema Batista a tomar uma opção: iria fazer diálise peritoneal. Iniciou o tratamento no dia 2 de Janeiro de 2012.
"Tomei esta opção porque queria manter o meu nível de vida e o meu trabalho. Fisicamente, é mais fácil do que esperava. A nível emocional é mais complicado porque ter um tubo na barriga transforma o nosso corpo, mas tenho o apoio da minha família", confessa, esperançosa de que o transplante de rins e pâncreas ocorra em breve.
PERFIL
Ema Batista tem 35 anos e desde os 5 que era insulino-dependente, devido à diabetes. Foi um desmaio enquanto conduzia em plena A5, devido a uma hipoglicemia grave, que a alertou para algo mais grave. O diagnóstico confirmou a falência dos rins: começou a diálise este mês.
INFORMAÇÃO ALTERA A OPÇÃO DE TRATAMENTO
Um inquérito recentemente realizado pela Associação Portuguesa de Insuficientes Renais concluiu que apenas um número muito reduzido de pacientes foi informado das possibilidades de tratamento para a insuficiência renal crónica. No entanto, uma percentagem significativa dos doentes, esclarecidos pelo seu médico, optaram pela diálise peritoneal.
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