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[Dedicado a todos os Transplantados]
Dizem
que quando queremos que algo de muito bom aconteça, nas nossas vidas, devemos
concentrar as nossas energias, apressar o nosso passo e correr, sem parar, sem
nunca olhar para trás. E quando nos aparece o inevitável abismo, pela nossa
frente, só temos que fechar os olhos e lançar-nos como pássaros porque numa
outra vida, bem longínqua, aprendemos todas as artes, dos outros animais, que
ao nascer nos esquecemos.
Todos os afortunados deram o salto. Ninguém
sabia o que iria acontecer no escuro e fundo abismo. Apenas tínhamos a
consciência de que, como num naufrágio, depois de muito nadar, chegariamos a
terra firme. Vamos chamar-lhe “Ilha”.
Nessa
Ilha havia várias montanhas. Lá, bem no topo, percebíamos que havia árvores de
fruto e cascatas com águas límpidas e cristalinas. Sorrimos! A solução estava
em começar a subir essas montanhas. Com um imenso espírito de interajuda,
conseguimos, com muito esforço, chegar à melhor parte da montanha. O topo. A
vista, lá de cima, era, estranha e maravilhosa. Estranha porque, do lado que
havíamos acabado de subir, só se vislumbrava neblina e nuvens negras.
Maravilhosa porque , do outro lado, viam-se praias, pessoas a passear, famílias
e amigos. Havia uma energia que nos despertava a atenção.
Rapidamente
percebemos que, apesar de estarmos em grupo, que haveríamos de ter vontade de
descer e conhecer essas pessoas, essas famílias, essas praias e todos os
lugares, que dali do alto, nos pareciam tentadores.
Ao
fim de uma semana de isolamento no topo da montanha, combinámos começar a
descer. Alguns ao descerem perceberam que aquelas famílias que avistavam, do
cimo da montanha, eram as suas próprias famílias que os esperavam com imensas
saudades. Sentiram-se felizes e aos poucos retomaram as suas vidas, as suas
rotinas, os seus trabalhos.
Outros,
perceberam que as suas famílias tinham ficado do lado nublado da montanha.
Perceberam que teriam que fazer um novo recomeço. Possivelmente procurar uma
nova casa, um novo trabalho, uma nova família, ou apenas recomeçarem tudo,
sozinhos.
Outros
ainda voltaram a subir a montanha porque, apesar de saberem que o caminho tinha
de ser em frente, sentiam muita vontade de olhar para trás. Experimentavam
saudades de alguns aspectos que tinham deixado naquele lado da montanha. Esses não tiveram
tanta sorte pois nunca chegaram a perceber que ao voltarem ao passado, ficariam
presos a recordações e a memórias solitárias. Não tinham percebido que o mais
importante, quando planaram como pássaros sobre o abismo, era terem sido
capazes de largar o que, de forma inevitável, não iriam ter nas suas novas
vidas. Não foram capazes de fazer o luto de uma vida que morreu, o luto deles
mesmos, que morreram.
Os
felizes foram aqueles que, no novo lado da montanha, perceberam que ao fazerem
o luto deles mesmos, conseguiriam elevar as suas almas a uma nova, inexplicável
e mágica dimensão.
Sandra Campos
Viver é estar preparado para tudo e não estar preparado para nada! Mas afinal quem somos nós, para querermos parar o tempo no seu decurso!? Precisamos de definir onde queremos chegar, se queremos chegar à "ilha", subir o topo das montanhas que nela se encontram e a nossa obrigação é definirmos que queremos mesmo chegar...queremos ir até ao fim. Deixaremos cair a última gota de suor, mas não paramos. Deixamos a última lágrima molhar o nosso rosto, mas não desistimos. O que fica para trás, enterraremos, porque não vale a pena prendermo-nos a recordações e memórias solitárias.
ResponderEliminarA minha saudação respeitosa a todos os transplantados e seus familiares, pela coragem que têm em caminhar sem acusarem cansaço.
Para ti Sandra, vai todo o meu carinho e um BRAVO, porque me mostraste que "UMA VIDA É POUCO PARA TI". É pouco para ti, para o Marco Caseiro, para muitas Sandras e muitos Marcos. Obrigada.
Um beijo
Alda Caseiro