30/01/2012 - 10:42
Anunciada ao mundo há um ano, a primeira vacina contra o cancro do pulmão, desenvolvida por cientistas cubanos, trouxe uma nova esperança ao tratamento de um dos tumores mais temidos e mortais. Apesar de ainda só estar a ser aplicada em dois países – Cuba e Peru – e de a comunidade científica internacional tardar em pronunciar-se, há doentes portugueses interessados em aceder à vacina que estão a contactar a embaixada de Cuba em Portugal, avança o semanário Expresso. A CimaVax-EFG promete transformar o cancro do pulmão numa doença crónica controlável.
“Alguns doentes pediram informações à embaixada para saber como funciona a vacina e se podem ter acesso a ela indo a Cuba, ou se ela pode ser enviada para cá, sobretudo no caso de pessoas que não estão em condições de viajar”, revelou ao Expresso o embaixador de Cuba em Portugal, Eduardo González Lerner. “Como no caso deste tratamento não existe nenhum acordo oficial para o envio de doentes, a embaixada tem reencaminhado esses pedidos de informação para o pólo científico de Havana e para os serviços médicos cubanos, de modo a que as pessoas interessadas possam entrar directamente em contacto com eles”, adianta ao semanário.
Vacina usada em todos os hospitais cubanos
Segundo o embaixador, a vacina – sobretudo indicada para doentes que terminaram tratamentos de quimioterapia ou radioterapia sem sucesso e sem alternativa terapêutica – está actualmente a ser usada em todos os hospitais cubanos, tendo já sido aplicada, com bons resultados, a mas de dois mil doentes. Os cientistas do Centro de Imunologia Molecular em Havana, Cuba, que a investigaram ao longo de 15 anos, asseguram que a CimaVax-EFG aumenta a qualidade e a esperança de vida, sem acarretar efeitos secundários significativos.
Além de Cuba, que em Janeiro do ano passado anunciou ter patenteado a descoberta da primeira vacina terapêutica contra o cancro do pulmão, a CimaVax-EFG também já está a ser aplicada no Peru, encontrando-se actualmente em processo de registo em vários países da América Latina, como o Brasil, a Argentina, o Paraguai ou a Colômbia. No final de Novembro, o Reino Unido aprovou o início de ensaios clínicos e estão também previstos testes na Austrália, China, Tailândia e Malásia.
De acordo com as autoridades de saúde cubanas, a primeira toma da vacina pode ser enviada para um doentes noutro país, como Portugal, desde que um médico local a prescreva. O problema é que os especialistas e investigadores nacionais desta área ouvidos pelo Expresso dizer não ter informação suficiente sobre a vacina.
Falta de informação nas revistas científicas
“Não há artigos científicos sobre o assunto nas revistas de referência mundial e também não há resultados publicados sobre a sua aplicação que nos permitam fazer uma avaliação científica da vacina e dar uma opinião quanto à sua eficácia”, diz ao Expresso Jorge Cruz, responsável pela área do pulmão no Centro Champalimaud para o Desconhecido, em Lisboa.
O cirurgião torácico reconhece, no entanto, que “o processo que a vacina utiliza está correcto, porque se baseia na inibição da proteína de crescimento EFG, responsável pelo crescimento descontrolado das células cancerosas”. As notícias que têm surgido sobre a vacina “levam as pessoas desesperadas com a doença a reagir, procurando tudo o que lhes dê uma réstia de esperança”, constata Jorge Cruz, sublinhando que “o grande objectivo da oncologia é curar o cancro ou pelo menos transformá-lo numa doença crónica”.
A falta de informação é também a razão apontada ao Expresso pelo Instituto Português de Oncologia de Lisboa (IPO Lisboa) para não se pronunciar sobre o assunto. “Se for confrontado com um doente de cancro do pulmão que pretenda ter acesso à vacina, não sei o que dizer, porque não há informação”, explica, por sua vez, Jorge Espírito Santo. O presidente do Colégio de Oncologia da Ordem dos Médicos considera que, para recomendar a CimaVax-EFG a um doente, “um médico deve ter evidências sobre a sua eficácia, o seu funcionamento, o mecanismo de acção, os efeitos secundários, o tipo de doentes que devem ser seleccionados para a administrar e muitos outros aspectos”.
De vez em quando, “aparecem estas notícias sobre a descoberta de novos medicamentos em Cuba que parecem levar a curar milagrosas”, lembra Jorge Cruz, “mas os grandes laboratórios farmacêuticos internacionais não compram as patentes desses medicamentos”.
A esperança vinda de Cuba pode não se esgotar, no entanto, nos doentes com cancro do pulmão. Com efeito, o Centro de Imunologia Molecular de Havana está a trabalhar em ensaios clínicos para a aplicação desta vacina no cancro da próstata, prevendo-se que ela seja registada para esse fim ainda em 2012.
Fonte: http://www.rcmpharma.com/actualidade/medicamentos/30-01-12/portugueses-querem-vacina-cubana-contra-o-cancro
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