Há 36 doentes portugueses à espera de transplante de pulmão em Portugal e Espanha
Portugal depende de Espanha para dar resposta aos doentes que precisam de transplante pulmonar. Neste momento há seis portugueses à espera no Complexo Hospitalar Universitário da Corunha, onde estava a ser seguido o irmão de José Sócrates, e outros 30 em lista de espera no serviço do Hospital de Santa Marta, em Lisboa. A falta de recursos humanos e de espaços equipados para manter os doentes isolados quando estão a ser tratados com imunossupressores faz com que este ano só seja de esperar a realização de mais oito transplantes na única unidade habilitada - embora os 11 realizados até ao momento superem já os números de 2010. O atraso de Portugal neste transplante específico é visível, mesmo com as melhorias: em 2010 o hospital da Corunha fez 46 transplantes pulmonares, mais três que os realizados em Portugal entre 1997 e 2010. Em Espanha, que lidera a transplantação a nível europeu, realizaram-se 235 transplantes pulmonares. Em Portugal foram dez.
O facto de a colheita do pulmão exigir rapidez e ser complexa do ponto de vista cirúrgico, passando à partida pela deslocação dos especialistas de Santa Marta, leva a que nem todos os pulmões cheguem a Lisboa. Ontem a enfermeira Covadonga, responsável pela coordenação galega de transplantes, disse ao i que, desde o início do ano, as equipas da Corunha já vieram recolher sete pulmões a Portugal, a que se juntam outras oito colheitas em 2010. "Só somos chamados quando a equipa de Santa Marta não pode", explica a responsável. Também João Cardoso, director do serviço de Pneumologia Hospital de Santa Marta, confirmou ao i que a colheita deste órgão específico tem de ser feita por profissionais com experiência, sob pena de o órgão ser danificado. Além de não poderem passar mais de cinco horas entre a colheita e o transplante, é precisa uma grande articulação técnica com a colheita do coração, que por vezes acaba por ter prioridade, admite o especialista.
A chamada de equipas espanholas faz parte do convénio que permite ao Serviço Nacional de Saúde enviar casos urgentes ou mais complexos para transplante na Corunha, no antigo Hospital Juan Canalejo. O ano passado, dos 46 transplantados nesta unidade, cinco foram portugueses. Desde 2006 as equipas da Corunha já asseguraram o transplante a 29 doentes do SNS. Como o i noticiou esta semana, a Direcção-Geral da Saúde vai estudar a hipótese de reforçar os protocolos com os centros europeus para onde referencia mais doentes, no sentido de diminuir custos ou criar vias de acesso prioritário. Os transplantes pulmonares na Corunha custam 125 mil euros por doente ao Serviço Nacional de Saúde, quando em Santa Marta rondam os 79 mil euros. Só este ano, com a programação de 20 transplantes na unidade nacional, o dobro do ano passado, o SNS espera poupar 900 mil euros.
Mais capacidade Apesar do aumento da capacidade de 175% no Hospital de Santa Marta - em 2007 foram feitos apenas quatro transplantes -, João Cardoso sublinha que a evolução se deve mais ao "afinamento" da equipa que ao aumento dos meios. Em 2010 o hospital perdeu três pneumologistas e até ao momento só conseguiu contratar um. Cirurgiões, pneumologistas, enfermeiros e outros profissionais asseguram ainda os restantes serviços e urgências. Também os quartos de pós-transplante, três no total, são partilhados com os casos de transplante cardíaco, diz Luísa Semedo, a pneumologista que acompanha estes doentes. Apesar de sublinhar as "melhorias significativas na capacidade de resposta", a médica reconhece as limitações. "Estamos permanentemente de chamada."
Uma das hipóteses em cima da mesa é a criação de uma nova unidade para transplantes pulmonares no Centro Hospitalar de Gaia, que já enviou três especialistas para formação na Corunha, noticiou o "Correio da Manhã". João Cardoso diz que com o reforço progressivo do Hospital de Santa Marta não será uma iniciativa necessária em tempos de escassez de meios: "Se chegarmos aos 25 transplantes por ano, não é preciso outro centro. Significaria uma divisão dos recursos. A experiência lá fora mostra que a prioridade tem sido investir num grande centro de referência."
Falta de informação Sandra Campos, de 41 anos, fez o transplante de pulmão na Corunha em 2005, depois de dois anos e meio à espera em Portugal. Esteve para criar uma associação de apoio a doentes com fibrose pulmonar com António de Sousa, o irmão do ex-primeiro-ministro, que morreu esta semana enquanto aguardava um segundo transplante, aos 49 anos.
Ao i, Sandra Campos explicou ontem que o projecto não chegou a avançar por ser bastante crítica da realidade em Portugal, o que já lhe trouxe amargos de boca, como ser mal recebida em encontros nesta área. "Quando comparo a minha situação em 2004 com a de 2011 vejo que as coisas não estão muito diferentes. Ainda há um discurso de pessimismo e tabu na hora de avançar para o transplante e de enviar doentes para o estrangeiro", denuncia. Foi diagnosticada aos 27 anos com fibrose pulmonar quística, uma doença hereditária: "A primeira coisa que me disseram foi que podia esperar viver até aos 30 anos. Foi um médico espanhol, em Santa Maria, que falou pela primeira vez do transplante. Descobri o hospital da Corunha e tive de insistir até ser encaminhada." Tem um blogue na internet onde dá apoio a outros doentes. Recebe dois ou três pedidos de informação por dia, com casos de referenciamento negado, dificuldades em aceder a tratamentos e transplantes por dívidas da ADSE e desmotivação. "Ontem o director de serviço da Corunha mandou-me uma mensagem a dizer que lamentava a morte do António e para eu ter força, que iria chegar aos 15 anos de transplante. Às vezes penso que seria impensável esta atenção em Portugal."
Fonte: http://www.ionline.pt/conteudo/141536-ha-36-doentes-portugueses--espera-transplante-pulmao-em-portugal-e-espanha
Eu fui um dos transplantados do ano passado, ou seja, estou nas estatísticas, do ano de 2010...!
ResponderEliminarQue 15 anos?! Cara Sandra, quero ler o seu blog por muitos e muitos anos!
ResponderEliminarContinue e muita coragem, pois mesmo nestes dias tristes, temos de nos superar, por nós, por aqueles que vão passar por este tormento e pela memória de quem já não está connosco!
Beijos
Olá Vitor,
ResponderEliminarMuito obrigada pela sua mensagem. É tao bonita e animadora :)
A mensagem que eu recebi do meu médico na Corunha era bem mais profunda e foi tao importante porque naquele preciso momento em que a recebi estava tao desesperada e noa parava de chorar - a perda de uma vida de um amigo, os medos que surgem nestes momentos e que nao conseguimos evitar. Por isso estou tao agradecida ao meu médico, ao Vitor e a todos que me apoiaram com uma mensagem de animo.
Obrigada,
Sandra Campos
Olá Sandra,
ResponderEliminarAlda Caseiro comentou a tua ligação.
Alda escreveu: "Obrigada Sandra por abordar este tema aqui no Face.Tenho o meu filho na Corunha desde o dia 2/06/11,á espera de transplante bi-pulmonar,prq tem fibrose/silicose,doença provocada profissionalmente e q lhe foi diagnosticada pelo hospital Pulido Valente em 2002.Não foi fácil a resolução de o mandarem pr Corunha,exactamente por se tornar muito dispendioso pr o nosso SNS,não importava se estava em causa uma vida!Fiquei a saber pelo seu blog que estão a enviar especialistas portugueses a Corunha pr formação,acho que foi uma ideia genial...talvez assim não hajam tantas perdas de vida, por causa das listas de espera e dos gastos financeiros.Também acho genial que os nossos hospitais abram mais unidades para fazerem transplantes, porque o meu filho foi rejeitado por 2 vezes, pelo hospital de Sta.Marta!O porquê...ficou no segredo dos Deuses!É-me difícil falar assim do nosso sistema de saúde,mas é a realidade!!!"