O número de doentes a precisar de um transplante renal sobe todos os anos e a culpa é dos maus hábitos alimentares, avança o jornal i. "As listas de espera têm quase que duplicado de cinco em cinco anos e só ultimamente é que se tem verificado uma redução", assegurou Helena Alves, directora do Centro de Histocompatibilidade do Norte.
A responsável salienta que os números se devem ao aumento de prevalência de doenças como a diabetes, a hipertensão e o colesterol, uma vez que "a doença genética é mais ou menos controlada". O número de doentes renais à espera de transplante em Portugal, por milhão de habitantes, é superior ao espanhol. "Estive a investigar para perceber porque é que isso acontece. Primeiro pensei que fizessem mais transplantes em Espanha, e verifiquei que não. Depois equacionei o facto de eles não terem listas tão inclusivas como as nossas e limitarem o acesso aos transplantes, mas também não era isso. Por fim, percebi que a diferença está nos cuidados de saúde primários", esclareceu a médica, em declarações ao i. "Não detectamos as doenças a tempo e depois já é tarde." A solução, segundo a especialista, passa por "melhorar os cuidados de saúde primários e investir na educação com o objectivo de criar hábitos saudáveis".
Doação de órgãos já não é tabú
O CHN existe formalmente desde 1983 e nestas quase três décadas reuniu um arquivo biológico de mais de 200 mil indivíduos, nos quais se incluem os inscritos no Centro Nacional de Dadores de Células de Medula Óssea, Estaminais ou de Sangue do Cordão (Cedace). Só no Cedace há uma lista de 252 mil potenciais dadores, um número "muito generoso e bastante superior ao espanhol", assegura Helena Alves.
"Hoje em dia as pessoas estão mais sensibilizadas para a doação de órgãos" mas, ao contrário do que se possa pensar, "a doação não depende do consentimento das famílias, a não ser que se tratem de crianças". No caso dos dadores-cadáveres, a menos que estejam inscritos no Registo Nacional de Não Dadores (Rennda), os órgãos são retirados sem autorização dos familiares. A doação é presumida.
"Claro que a equipa que acompanha este processo conversa sempre com a família e explica os procedimentos", clarifica a médica, que assegura que na maioria dos casos "saber que órgãos dos seus entes queridos vão poder salvar vidas acalma a dor da perda". Apenas 0,3% da população portuguesa está incrita no Rennda, um número que a directora do CHN considera "muito pouco expressivo". Apesar da indisponibilidade de doar os seus órgãos, quem estiver inscrito no Rennda não perde o direito de receber um órgão. "Há uma discussão filosófica a esse nível. Será que quem está indisponível para dar deve receber? Bom, ninguém tem coragem de negar um órgão a um doente."
Para além dos dadores-cadáveres, existe ainda outro tipo de dadores: os vivos. Estes apenas podem doar um rim ou parte do fígado e, nesta matéria, Helena Alves recomenda "muita prudência". Existe sempre a possibilidade de o dador estar a ser coagido e, por isso, "é terreno perigoso". Em Portugal, desde 2007 que é permitida a doação de órgãos por dador vivo entre pessoas sem relação de consanguinidade. Segundo dados de 2010, o número de transplantes de dadores vivos sem relação de consanguinidade representa já 41% da doação em vida.
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