A propósito das 1ªs Jornadas de Colheita e Transplantação em Portugal (ver link http://transplantes-pulmonares.blogspot.com/2011/03/1s-jornadas-de-colheita-e.html ) tive o imenso gosto de conhecer a Enfermeira Paula Pico que prontamente aceitou dar o seu testemunho para o blog.
Os testemunhos que tenho colocado no blog são essencialmente de Transplantados e com estes pretendo passar toda a esperança depositada no Transplante Pulmonar a última hipótese para doenças pulmonares degenerativas crónicas.
O testemunho de profissionais envolvidos nesta área são igualmente valiosos para termos uma noção do seu dia-a-dia e como também vivem connosco as tristezas e as alegrias.
Aqui fica o testemunho da Enfermeira Paula Pico a quem agradeço toda a sua disponibilidade.
Um abraço,
Sandra Campos
· Nome? Paula Pico
· Idade? 37
· Filhos? Casada? (se sim, que idade têm os filhos?) Casada e 1 filha de 8 anos
· Quando era pequena brincava às enfermeiras? Desde quando percebeu que era essa a sua vocação? Não consigo localizar no tempo a vontade de ser Enfermeira, mas sei que o curso de Enfermagem foi a minha única opção de escolha na inscrição para o Ensino Superior.
· Onde estudou enfermagem? Na Escola Superior de Enfermagem de Artur Ravara, actual Escola Superior de Enfermagem de Lisboa.
· Gostaria de ser sempre enfermeira? Ou tem outros sonhos? Sim, ser Enfermeira é quase como uma opção de vida, muito embora consiga conciliar outras actividades não profissionais neste percurso.
· É fácil conjugar a vida de enfermeira com a vida familiar? É desafiante... Uma agenda sempre à mão, uma boa rede de suporte familiar para as aflições e uma boa dose de paciência.
· Consegue ir para casa e deixar de pensar no trabalho? Claro que não. Quem disser que consegue isso está a mentir. Lidar com a vida, a morte, o sofrimento associado ao desespero das famílias não passa ao lado de ninguém.
· Desde quando está na equipa de Enfermagem do Gabinete Coordenador de Colheita e Transplantação do Hospital de S. José? Desde 1991.
· E antes onde trabalhava? A actividade no GCCT não é exclusiva, acumulo com o desempenho de funções na Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente.
· Como é trabalhar no Gabinete Coordenador de Colheita e Transplantação do Hospital de S. José? Pertencer à Equipa de Enfermagem do GCCT é um motivo de orgulho para mim. Saber que o nosso trabalho pode melhorar a qualidade de vida de quem desespera quase a “conta-gotas” num espaço curto de tempo é fenomenal. O Transplante para ser bem sucedido depende em primeiro lugar da existência de um órgão e de como foi ele “tratado” até poder ser utilizado. Como Enfermeira da UCIP e do GCCT tenho a possibilidade de participar mais activamente no processo, desde a identificação do dador à sua manutenção culminando com o momento da colheita. No entanto, mesmo tendo presente que haverá sempre alguém que beneficia com o órgão ou tecido colhido, o processo não é fácil. Para haver um dador multiorgânico é necessário que este esteja em situação de morte cerebral, o que significa que é necessário acompanhar uma família em processo de luto, o que nem sempre é fácil. As emoções e o sofrimento também passam por nós...
· Conte por favor algum aspecto marcante de um dia de trabalho. Um dia de trabalho contém sempre pelo menos um momento “out of the box” quer seja ele relacionado com o doente ou a família, quer seja com as pessoas que pertencem à equipa pluridisciplinar e serviços de apoio... Desde momentos hilariantes ao puro desespero de um incêndio ou inundação, já vi “quase” tudo :)
Linda colega que tanto trabalhas e muitas das vezes sais dele exausta! Sabes? Só o teu coração e os doentes valorizam a nossa profissão. Se queres subir na carreira, tens de pagar por ti própria a Especialização e sabe-se lá quando to permitem...São os enfermeiros que mais estão com os doentes, dando-lhes conforto e ternura, para lá da tua competência no despistares as situações de risco. Parabéns pelo que li. De uma colega, que ainda teve privilégios e que se já tornou um "dinossauro", na enfermagem. Beijinho. Helena
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