Quando entrei este ano de 2014. Respirei de alivio e
disse - “Até que enfim que terminou o
ano de 2013!” Tudo estava a correr lindamente até que em Março, já fazia bom
tempo, apanhei gripe A e uma bactéria complicada resultante das chamadas
“infecções oportunistas” muito características dos imunossuprimidos.
Os transplantados são imunossuprimidos – tomam medicamentos
(imunossupressores que baixam as defesas do organismo para não haver rejeição
dos órgãos transplantados).
Nestes momentos temos que aceitar tudo aquilo que acham que
é melhor ser feito para combater a infecção – broncoscopias, antibióticos na
veia, inaladores, ginástica respiratória, humidificação. Tudo aquilo que já
conhecíamos antes do transplante mas que a euforia fez-nos esquecer ou pelo menos
tapar com a tampa como se faz com uma panela.
Outras, pior ainda, entram em rejeições crónicas, voltam a
estar com oxigénio, outras entram em insuficiência renal crónica e precisam de
um novo transplante renal. Será tudo isto justo? Não deveríamos ficar
totalmente bem como quando vamos arranjar um dente?!
Quando tudo vem ao de cima, ouvimos das coisas mais bizarras
– “há pessoas que estão piores” ou “não é querer mal aos outros mas é bom ver
que há pessoas a passarem pelas mesmas dificuldades que nós!”
Eu não concordo com um ponto de vista nem com o outro. Não é
o sofrimento que nos faz crescer ou tornar mais sensíveis, o mal dos outros não
melhora em nada o nosso. Se tudo fosse justo estaríamos todos bem, haveria já
órgãos artificiais e não seria necessário morrer uma pessoa para outra viver –
será mesmo este o milagre da vida?!
Deixas a tua família, fazes 600km, no mínimo, para ser
internada em isolamento e onde sabes que terás que ficar pelo menos 21 dias.
Picam-te mil vezes as veias, ficas cheia de nódoas-negras e o medo e as
incertezas ganham vida!
Deixas um filho “zangado” contigo – Porque estás assim e
porque não te resolveram ainda essa bactéria? Pois, também eu queria saber e
sinto o sabor amargo da impotência de não ser capaz de dar uma resposta capaz!
Obrigada aos Dadores e suas famílias e a todos os médicos
que trabalham para nós, para nos ver bem e a sorrir.
Espero que um dia este mundo seja melhor, que as
politiquices, as patentes e os interesses económicos deixem de ser obstáculos
para salvar as pessoas em todas as áreas da saúde.
SCampos
O transplante bi-pulmonar de Sandra Campos, do Marco Caseiro, de tantas outras pessoas, é o renascer para uma nova vida, o acreditar que tudo vai ser possível, inclusive o sonhar! É assim que se comporta um transplantado e com todo o direito. Mas a vida é cruel, injusta e isso eles não sabem, nem entendem, porque a única coisa que lhes está no pensamento, é uma enorme garra de viver. Então porque são eles privados desta garra, porque não terão eles o direito de viver esta nova vida??? São estes pontos de interrogação que terão sempre à sua frente. Continuarão prisioneiros de incertezas, de medos, de angústias!
ResponderEliminarTudo isto eu acabo de escrever, para mostrar o meu descontentamento relacionado com estes interesses económicos existentes num país à beira mar plantado, que se chama Portugal! Interesses tais, que colocam vidas em risco, que tratam as pessoas simplesmente como números, que mostram que, a vida de cada um pouco interesse tem!
Importa referir que felizmente, existem outros países, com outros profissionais de saúde, que ainda se preocupam com o ser humano e o colocam em lugar prioritário. A eles o meu obrigada!!!
Sandra, eu também espero que um dia este mundo seja melhor, sem obstáculos, porque a saúde é um bem que não deveria ser negado a ninguém e infelizmente está a sê-lo.
Para todos os transplantados, para todos os familiares de dadores e para todos os médicos e respectivas equipas que se empenham para o bem estar do próximo, eu deixo aqui expressa, a minha enorme gratidão. Bem hajam!
Alda Caseiro