Testemunho - Transplante Pulmonar - Constatino

Estava a descansar no seu quarto no hotel de pacientes quando entrei com a máquina fotográfica, papel e caneta. Disse-lhe que gostaria de lhe fazer algumas perguntas sobre o seu transplante pulmonar para colocar na internet. Sorriu e num galego divertido respondeu-me: “Claro Mujer!”

Levantou a camisola e mostrou-me cheio de orgulho a cicatriz que lhe atravessa o tórax de um lado ao outro – “Estás a ver? Tenho 2 pulmões novos de um rapaz de 29 anos. Imagina! E eu tenho 56 anos” – Continuando comentou – “Foi só há 2 meses e não me dói nada!”

Constantino já tinha sido operado em Vigo no ano de 92 mantendo-se mais ou menos estável mas há 4 anos a sua situação piorou bastante ficando dependente de oxigénio.

Foi-lhe diagnosticado um enfisema pulmonar e as infecções constantes por uma bactéria (pseudomona) foram-lhe destruindo os pulmões até chegar a ficar entubado nos cuidados intensivos do Hospital de Vigo.

A sua irmã que entretanto entrou no quarto explicou-me que os médicos em Vigo pouco ou nada davam por Constantino e que lhes disseram que não valia a pena pensarem nem no Transplante nem na Corunha – “Argumentavam que tinha uma caixa torácica muito grande e um grupo de sangue muito difícil de encontrar (B+), chegou a pesar 50kg com 1,85m … E olha bem para ele agora!” – Exclamava toda orgulhosa.

Constantino é solteiro e a única ajuda que sempre teve e tem chega da sua inseparável irmã e do cunhado que silencioso ia escutando toda a conversa com atenção.

“Não se sabe exactamente porque teve este problema nos pulmões” - contou a irmã – “Pensam que foi do trabalho que tinha com a pintura” – “E dos 3 pacotes de cigarros que fumava todos os dias” – Afirmou abanando a cabeça em sinal de reprovação pelo vício do irmão.

 - “Quando vim para a Corunha, ao fim de 8 dias de estar em lista, chamaram-me mas o órgão não estava bom” – Continuou Constantino – “Mas não fiquei desanimado e pensei de imediato – Melhor que quando venha seja mesmo bom! - Prosseguiu – “Depois tive que esperar mais 9 meses e só então finalmente chegaram estes pulmões – Disse sorrindo e dando uma palmadinha de satisfação no peito.

Constantino palestrava como um pássaro com o novo ar que lhe alenta o corpo – “Médicos como aqui não há! Dão-nos muita força e animo” – “De todos os médicos em Vigo apenas tenho que agradecer à minha pneumologista que um dia se virou para mim e disse-me – “Ou deixas de fumar ou morres e não há tratamento anti-tabaco que te salve” – Pois já tinha tomado de tudo para deixar de fumar”.

- “Quando estou a fazer exercício na bicicleta nem acredito ao ver a saturação entre 98% e 100%” e já subi 80 escadas sem me cansar” – Contava alegremente – “Aqui na Corunha estou muito agradecido às pneumologistas que me acompanharam antes do transplante, à coordenadora de transplantes (Covadonga), à fisioterapeuta Esther e a toda a equipa de torácica do Juan Canalejo.”

- “Estava intoxicado de medicação e quando cheguei aqui, mesmo antes do transplante, comecei a melhorar, depois de me retirarem um monte de medicação” – Explicava num tom agradecido.

“E agora projectos para o futuro?” - Perguntei-lhe.

“FUTURO?!” – Repetiu sorrindo – “ANDAR, voltar a andar muito pois tinha perdido muita massa muscular nas pernas. FALAR, falar muito sobre os transplantes e a sorte que tenho em estar aqui. PEDIR, pedir muito para que haja cada vez mais doação de órgãos pois há muita gente a precisar”.