01/02/2013 - 09:11
A crise económica está a “colonizar” e a facilitar “o ataque ideológico” aos serviços nacionais de saúde de Portugal, Espanha e Itália, consideraram esta quinta-feira, durante um seminário em Coimbra, especialistas dos três países, avança a agência Lusa.
“Os governos dos três países estão a fazer reformas” nos respectivos sistemas por causa da crise económica, mas “essas reformas são ideológicas”, sintetizou o moderador do debate, Pedro Hespanha.
A crise, advertiu o docente da Faculdade de Economia e investigador do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, “não é boa altura para fazer reformas”, pois estas exigem estudo e discussão aprofundadas e o exercício do contraditório em tempo de crise “não é boa oportunidade” para isso.
O especialista sustentou que as reformas que estão a ser introduzidas nos serviços de saúde de Portugal, Espanha e Itália “estão a atingir os atributos desses serviços: a universalidade, a gratuitidade e a qualidade”.
“Em saúde podemos e devemos racionalizar, podemos melhorar os serviços e torná-los mais eficientes, mas não por opção ideológica”, defendeu o docente italiano e investigador do CES Mauro Serapioni.
“Está-se a cortar sem critério, estamos a assistir a um processo de colonização dos serviços de saúde, a partir de uma lógica externa e sem regulação”, afirmou.
No entender de José Maria Bleda Garcia, docente da universidade espanhola de Castilla La Mancha e director da revista Praxis Sociológica, estes países “não podem continuar com as dívidas” que têm, mas “podem geri-las de outro modo”, até porque é possível “racionalizar sem ideologia”.
Em Portugal, não há um sistema de monitorização dos efeitos da crise socioeconómica na saúde, mas “o suicídio já mata mais do que os acidentes de transportes”, de acordo com os mais recentes dados oficiais disponíveis (relativos a 2010), alertou, por sua vez, Pedro Ferreira, docente da Faculdade de Economia e director do Centro de Estudos e Investigações em Saúde.
Os dados resultam da crise, que reduz a circulação automóvel e fomenta a perda da auto-estima, a depressão e a ansiedade e o risco de comportamentos suicidas, explicitou, apontando outros reflexos como o do aumento da taxa de mortalidade entre as pessoas mais idosas e socialmente menos favorecidas.
Com características de algum modo comuns, os serviços nacionais de saúde de Portugal, Espanha e Itália também estão a sofrer de forma idêntica os efeitos da crise, mas tem sido relativamente diversa a reacção dos profissionais do sector e dos utentes em cada um destes países.
Em Espanha, o movimento ‘marea blanca’ (maré branca), desencadeado na zona de Madrid, em defesa do serviço, está a conquistar cada vez mais pessoas e a generalizar-se a todo o país, com acções de forte contestação às medidas adoptadas pelo governo, afirmou Marta Aguilar Gil, docente do Departamento de Ciências Sociais da Universidade de Sevilha.
Em Portugal “parece haver muita passividade”, observou Marta Aguilar Gil, admitindo, no entanto, que ao ‘marea blanca’ falta alguma consistência e organização, reflexo, porventura, da ausência de estruturas como os sindicatos, relativamente alheados do problema.
Na Itália, vive-se uma situação “intermédia”, mas é ainda cedo para compreender se o serviço nacional de saúde resistirá ou não em algum destes países, concluíram os participantes no seminário, promovido pelo CES.
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